Clube dos Poetas de Campinas "O início de tudo"

 

 

 

Artigos da Poesia

O Clube do Poetas Campinas

O início de tudo

 

POR

 

POETISA AZUL

 

 

 

 

 

 

Por Sandra Alves (Poetisa Azul)

 

Acadêmica da AVLA

 

Cadeira nº 25

 

Patrono - Aloysio Moraes

 

09/10/2023

Valinhos- SP

 

Introdução

 

Como historiadora da poesia e apaixonada pela memória literária, compartilho aqui o início de um sonho que nasceu há mais de seis décadas, em meio aos sentimentos e versos de poetas e poetisas de Campinas. Um sonho que, por muito tempo, permaneceu guardado literalmente dentro de uma caixa.

Redescobrir essa história foi como abrir um baú de afetos, onde cada papel, cada nome, cada lembrança guardava em silêncio a existência do Clube dos Poetas de Campinas. Hoje, com respeito e emoção, reescrevo esse capítulo precioso da história cultural de Campinas, resgatando não só documentos, mas principalmente a essência poética que o tempo não apagou.

A poesia jamais deve ser esquecida, ela é ponte entre o ontem e o amanhã. E eu, como Poetisa Azul, me sinto honrada em ser a voz que traz de volta esse eco literário tão importante para o mundo literário.

 

 

Breve explanação

Como acadêmica da Academia de Letras e Artes de Valinhos - AVLA, recebi uma das mais importantes missões: ser guardiã da literatura e da arte. Com isso, assumo o compromisso de incentivar os futuros escritores, artistas, poetas e poetisas na criação artística e literária, além de motivá-los a preservar o patrimônio histórico e cultural da cidade de Valinhos.

Um dos projetos de minha autoria, enquanto historiadora da poesia, foi um artigo sobre os primeiros concursos literários da cidade de Valinhos, texto que pode ser encontrado no site da Associação e Preservação Histórica e Cultural da Cidade de Valinhos, na seção do blog.

O segundo projeto é dedicado à memória do meu patrono na AVLA, Aloysio Carvalho Moraes. Ao pesquisar sua trajetória, pude conhecer mais profundamente suas atividades e descobri um capítulo de grande importância não apenas para Valinhos, mas para a cultura do povo campineiro: o surgimento do Clube dos Poetas de Campinas, fundado por ele.

Foi então que preparei este precioso presente aos meus confrades e confreiras da Academia Campinense de Letras, da Academia Campinense de Letras e Artes, e aos membros do Clube dos Poetas de Campinas: o resgate de uma parte da história deste clube, que nasceu do sonho coletivo de vários poetas e poetisas e cresceu através de atividades poéticas, literárias e artísticas que marcaram uma época.

Durante esta leitura, convido a todos para uma reflexão: por que o nosso papel nas academias é tão importante para zelar pelo legado deixado pelos artistas da palavra e da sensibilidade?

Em sua dissertação, Aloysio Moraes afirmou com sabedoria:

 “Os homens da cidade que o clube reuniu e cujos nomes, em sua maioria, ainda são desconhecidos, podem ser as estrelas do amanhã, mesmo porque todos os de hoje são conhecidos e admirados no mundo das letras e das artes. Esses também foram os anônimos de ontem, que andaram de porta em porta procurando apoio para seu trabalho.”

O clube nasceu com a meta de promover o intercâmbio entre entidades culturais de todo o país, por meio de palestras, encontros e do fortalecimento da rede entre poetas de outras cidades e estados.

Fundado em 12 de agosto de 1967, o Clube dos Poetas de Campinas teve Aloysio Moraes como idealizador. Sua intenção era reunir amigos que compartilhassem a paixão pela arte em todas as suas formas. Em entrevista ao Correio Popular, em 2 de abril de 1968, ele declarou:

“A ideia foi agregar, em uma sociedade, os demais intelectuais campineiros que se dedicavam à arte da poesia. Estendi o convite ao Wilson Arrighi e começamos a convidar outras pessoas para fundar o grupo, realizando o primeiro encontro para difundir essas obras que, até então, muitos poetas guardavam nas gavetas, sem qualquer estímulo à apresentação.”

Graças ao cuidado que o poeta teve em preservar acervos de jornais e documentos ao longo dos anos até seu falecimento, aos 82 anos, em 22 de junho de 2021, hoje podemos acessar essa herança literária, histórica e afetiva.

Aloysio foi, muitas vezes, o protagonista e, em outras, o coadjuvante silencioso que fez questão de abrir espaço para que os demais também brilhassem. Decifrar seu legado foi simples: ele nos ensinou que "a arte e a poesia jamais devem morrer!"

 

(Poetisa Azul 💙☔)

 

 

 

 

 

 

O fundador do Clube dos Poetas de Campinas

Foto em preto e branco de pessoas sentadas ao redor de uma mesa

Descrição gerada automaticamente

Aloysio Carvalho Moraes

“Livraria Imaculada Conceição, Rua Sacramento, 114 - Campinas. Exposição de pintura individual de Aloysio Moraes e noite de autógrafos. A estrada dos Egos Perdidos de Alcione T. Silva. Campinas, 17 de agosto de 1966.” 

 

A caminha de Aloysio Carvalho Moraes

 

Aloysio Carvalho Moraes, conhecido carinhosamente como “Moraes” ou “Garotinho”, nasceu no dia 31 de outubro de 1938, no então distrito de São Carlos do Pinhal, atual município de São Carlos (SP). Filho de funcionários públicos, viveu em diversas cidades ao longo da vida: Poços de Caldas, Santos, São Paulo, Guarujá e Campinas. Em janeiro de 1970, conheceu Margarida Mazzarelli, com quem se casou e teve três filhas: Andréia, Cléia e Cristiane. Estabeleceu-se definitivamente em Valinhos em 1976, cidade pela qual nutriria profundo afeto e dedicação.

 

Trajetória Profissional

 

Estudou no Colégio Ateneu Paulista, em Campinas, e cursou até o 3º ano de Direito na Faculdade Pinhalense. Sua entrada no universo profissional ocorreu em 1960, aos 21 anos, no jornal Hífen, em Campinas, onde atuou como fotógrafo e editor de colunas.

 

Sua história na fotografia teve início de forma inesperada: atendendo a um pedido do amigo Gilberto de Biasi, que precisava de auxílio para fotografar um casamento. Esse convite foi o ponto de partida de uma carreira marcada pela paixão e excelência. Começou como auxiliar, carregando equipamentos e cuidando da iluminação e troca de filmes, depois passou ao laboratório, trabalhando com revelação e ampliação de negativos. Com o tempo, tornou-se fotógrafo de eventos sociais e esportivos, registrando com sensibilidade bodas, casamentos e festas que marcaram gerações.

 

 

 

Foto em preto e branco de homem de terno e gravata

Descrição gerada automaticamente

 

A Alma Artista

 

Desde a juventude, Moraes demonstrava inclinação para as artes. No período estudantil, fazia caricaturas dos colegas e, mais tarde, mergulhou na arte cerâmica, participando de exposições e eventos. Atuou também como colunista social, contista e cronista esportivo em vários jornais da região. Sua paixão pelo registro e pela imagem culminou na fundação do Foto Clube Valinhos, onde ocupou o cargo de vice-presidente.

Nos últimos anos de sua vida, foi colaborador ativo do jornal Terceira Visão, mantendo-se fiel à sua vocação jornalística e artística.

Legado e Reconhecimento.

Aloysio Moraes foi, acima de tudo, um homem das artes. Artista plástico, poeta, jornalista e fotógrafo, viveu intensamente os encantos e os desafios da criação e do registro da vida. Foi homenageado diversas vezes por sua contribuição à cultura, à arte e à comunicação, recebendo inclusive duas homenagens oficiais da Câmara Municipal de Valinhos, cidade que escolheu como lar e cenário de sua história.

Despedida.

Aloysio nos deixou no dia 22 de junho de 2021, por volta das 19 horas, na Santa Casa de Valinhos, aos 82 anos, após uma batalha corajosa contra o câncer. Deixou um legado de sensibilidade, olhar apurado e amor à arte que ainda inspira fotógrafos, artista

 

 

 

Acervos de jornais de materiais publicados sobre as atividades do Clube Dos Poetas De Campinas

 

 

 

 

Diário do Povo – Campinas, 26 de janeiro de 1961.

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Descrição gerada automaticamente

Acervo do artigo do Jornal.

Matéria para coluna Estante e Prelo do jornal Diário do Povo -Campinas.

Poemas apresentado pelo poeta Jose Seva e Aloysio Carvalho Moraes.

 

Poetas de Campinas

 

A Cidade Grande

 

Contempla a multidão que tumultua.

A vida nova da cidade triste.

Há tanta gente, sim, hoje na rua!

Por isso mesmo a paz não existe.

 

Como se agitou e como estua!

E como em aumentar inda persiste!

Sei, meu irmão, a culpa não é tua.

O progresso chegou, não o pediste.

 

Não chores, pois que é vão o teu lamento.

Aceita os fatos sem ressentimentos.

E deixa-te envolver na multidão.

 

Embora sintas, como um dia o poeta,

Que uma grande cidade é uma completa.

Brutal, contraditória solidão.

“Jose Seva”

 

Menina e Moça

Menina e moça que persiste,

Menina e moça que deixaste saudades,

Menina e moça que um dia beijei,

Menina e moça que recusou o meu amor!

 

Não consegui compreender o seu sentimento,

E muito menos o que pretendias de mim,

pois se procurou enganar-me não descobri,

E se fingiu a mar também não percebi.

 

Menina e moça estás distantes.

Menina e moça que levou um pedaço do meu coração,

Menina e moça que procurou brincar com meu sentimento.

Menina e moça agora não recordas de mim!

“Aloysio Carvalho Moraes”

 


 

O magnífico discurso de Aloysio Carvalho de Moraes.

“Saudação às pessoas que se reuniram no Conservatório Musical “Carlos Gomes” de Campinas, no dia 12 de agosto de 1967, para fundação do Clube de Poesia."

Intitulado: MEUS IRMÃOS DE IDEAL 

 


“Aloysio Carvalho Moares”

 

 

 

 

“Saudação às pessoas que se reuniram no conservatório Musical “Carlos Gomes” de Campinas, no dia 12 de agosto de 1967, para fundação do Clube de Poesia."

Meus Irmão Ideal

 

Vós sois filhos da Musa. Afilhados de Apolo.

Tendes talentos mil. Lançais do céu ao solo, a semente do bem, do amor, da caridade.

Pregais benevolência. Amais fraternidades, que hoje pouco se vê no mundo ensanguentado pelo governo vis do povo abandonado!

Filhos dos pensamentos, amantes, sonhadores, dedilhas vossa Lira à altura dos condores,

Onde não há tristeza e prantos soluçantes,

Purezas de Platão e criações dos Dantes,

Fazem do coração dos seus irmãos alados,

paróquias celestiais, castelos e condados, em cuja biblioteca, Euterpe, e Lira e Musa,

deixaram aprimorar a bela língua lusa,

que deleita e encanta e nos faz reviver,

Sonhar e confiar, vibrar e enternecer,

Nas estrofes de fé e de pureza d’alma,

Que nos dão paciência e paz, e doce calma!

 

As rimas que fazeis, nas odes, nas baladas, têm o sublime odor das rosas murchadas!

As vossas criações são belas como ouro!

Exprimem perfeições! Valem mais que tesouro!

Em vossos corações há o que é bom e suave, desde o alvor do lírio do canto de uma ave!

Portanto possuireis nos píncaros da glória,

E bem que mereceis os louros da vitória! 

As sementes reais que vós deixais cair,

na seara intelectual da senda de porvir,

germinarão, depressa, a árvore frondosa para abrigar, soberba, a plêiade preciosa que vem do céu azul, sublime, criadora nos dar belos fanais nos dar a nova aurora de encantador rimário, melhor que olentes brisas,

ditado pela verve de poetas e poetisas! “

 

“Aloysio Carvalho Moares”

 


 

Filhos da Musa, Irmãos de Ideal.

Em minhas palavras - Poetisa azul.

 

Era agosto de 1967, e o céu de Campinas parecia guardar um segredo antigo. O Conservatório Musical Carlos Gomes recebia, naquele dia, algo além de partituras, recebia um chamado. Ali, reunidos por um ideal maior, homens e mulheres da palavra se encontravam para plantar um sonho: o Clube de Poesia.

 

Entre eles, ergueu-se a voz de um homem que não falava apenas com os lábios, mas com a alma: Aloysio Moraes. Seu discurso não era apenas uma saudação, era uma revelação. Cada frase era semente, cada verso, sopro divino, convocando os presentes a reconhecerem quem realmente eram.

 

“Vós sois filhos da Musa... afilhados de Apolo.”

 

Naquela proclamação, não havia vaidade, mas reconhecimento sagrado. O poeta não se enxerga maior que os outros: ele se sabe servidor da beleza, semeador do bem. Com a lira nas mãos e a esperança no peito, é chamado a lançar “do céu ao solo” a semente do amor, da caridade, da palavra que cura.

 

O mundo, dizia ele, estava ferido, “ensanguentado” e abandonado pelos que governam. Mas os poetas, não. Estes tinham outra missão: restaurar a esperança. Eles eram filhos do pensamento, sonhadores de olhos abertos, que dedilhavam a alma como quem dedilha um instrumento sagrado. Eram irmãos alados, capazes de erguer castelos invisíveis, templos onde a palavra era oferenda e a poesia, oração.

Ao mencionar Platão e Dante, Aloysio não citava apenas nomes: ele erguia pontes entre mundos. Como se dissesse: “Vede! Vós também sois parte dessa linhagem!” A língua portuguesa, tão rica e melodiosa, era para ele mais do que meio de expressão, era matéria-prima do encantamento.

 

As criações dos poetas, dizia, “têm o cheiro das rosas machucadas”, como quem entende que a beleza verdadeira nasce também da dor. Que cada rima carrega dentro de si o perfume de um sentimento vivido, e que o canto mais belo é aquele que vem do coração em estado de ternura.

 

E então, como profeta da inspiração, anunciou o porvir: falou de sementes reais que os poetas deixariam cair sobre a terra da cultura, sementes que germinariam em árvores frondosas, capazes de abrigar os que viriam depois. Ele via no presente a alvorada de uma nova aurora. Uma era em que os canais da poesia nos devolveriam a alma que o mundo tanto tentava apagar.

 

Naquele dia, não se fundou apenas um clube. Fundou-se uma esperança.

 

Aloysio sabia: quem escreve com o coração, planta eternidades. E naquele Conservatório, enquanto os olhos se marejavam e as mãos se apertavam em respeito, a poesia ganhava um lar não de tijolos, mas de ideais.

E para aqueles que ouvem, ainda hoje, o chamado da lira, fica a lembrança: somos filhos da Musa. Irmãos de ideal. E nossa missão é eterna.

 

 

Acervos de Aloysio Moraes: jornais de materiais publicados sobre as atividades do Clube dos Poetas de Campinas.

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City News - Coluna: Almix Reis informa - Campinas, 10 de setembro de 1967.

Decididamente a arte em geral necessita com urgência de estímulo e incentivo pois o mundo intelectual sofre constantes abalos e perdas por falta de material humano e financeiro. Felizmente ainda existem pessoas capazes de julgar sobre todos os aspectos o grande problema da cultura no país e no mundo, desde que incompreensão e a falta de conhecimento é variante.

Aloísio Carvalho Moraes jovem conhecido nos meios artísticos intelectuais Uber há muito tempo vem trabalhando para unificação de jovens talentosos que vivem na absoluta obscuridade pois as oportunidades são poucas. Ele que é um poeta da pintura acaba de fundar com grande grupo de entusiastas o Clube dos Poetas de Campinas.

Realmente merece nosso apoio Incondicional pois além de ser alheio ao mundo das Letras Aloísio Carvalho Moraes estimula os moços da poesia moderna aderindo a todos os seus movimentos ainda que seja simples espectador.

O clube dos Poetas atualmente funciona no conservatório musical Carlos Gomes realizando semanalmente suas reuniões que atingem campos vatísticos pois contam todos os assuntos referentes à Literatura e Arte generalizada. Já fazem do clube os seguintes intelectuais Wilson Arrighi, Cecília de Godoy Camargo,  Conceição Arruda de Toledo, Atinia A. Gorayes, Maria José Ferreira Baptista, José Hunziter, Vicente Pereira, Edgar Alberto Alves Ferreira, Marisa Lage, Iracema Mussi, Cláudio Vasconcelos Pinheiros, Jolumá Brito, Chico de Lacerda , Walfredo de Alencar, Vera Araújo, Alcione T. Silva, Emílio Conçelli, Miguel Lopez, Marcílio Giezbrecht, Caio César Simões Felgar,Wilma Viana, Moacir Andrades, Maria Luiza Silva, Benedito Oliveira Filho e Maurício de Moraes.

Com os aplausos do colunista amigo, e grande abraço da coluna inteira, pelo trabalho dos jovens em pauta demonstrando desta feita o seu melhor empenho em prol do desenvolvimento cultural da novíssima geração.

 

O Poeta da Pintura e os Filhos da Luz.

Em minhas palavras - Poetisa azul.

Na penumbra do mundo moderno, onde a arte muitas vezes grita sem eco, surgiu um homem que ousou ouvir. Aloysio Carvalho Moraes, conhecido por muitos como "Garotinho", mas no âmago reconhecido como aquele que pinta versos no silêncio das paredes, decidiu que era hora de abrir portas.

Não portas comuns. Portas simbólicas. Passagens que separam a invisibilidade da arte marginalizada e o palco merecido dos talentos esquecidos.

Nos salões do Conservatório Carlos Gomes, em Campinas, algo novo florescia. A música ainda soava pelas janelas abertas, mas agora, nas noites de reunião, misturava-se ao som das palavras. Palavras que sangravam nos papéis, que ardiam no peito dos jovens poetas antes ignorados. Era o nascimento do Clube dos Poetas de Campinas.

Aloysio, o poeta da pintura, como chamavam os que compreendiam seu dom de pintar almas com cores sutis, não era do mundo das Letras, e talvez por isso mesmo via com olhos mais puros. Seu gesto não vinha da vaidade de figurar nos livros ou nos pódios da academia, mas da nobreza de quem reconhece a urgência de um mundo mais sensível.

"A arte sofre, meus amigos." Dizia ele. Ela sofre pela falta de pão, pela ausência de palcos, pela miopia dos que não sabem ver beleza onde ela brota com mais força: nas bordas, nos jovens, nos esquecidos.

Eram tempos difíceis. O intelectualismo padecia de solidão e escassez. Mas ele, Aloysio, acreditava que onde houvesse um verso sincero, haveria redenção. Reuniu então um exército de sonhadores, não com espadas, mas com cadernos manchados de tinta, e formou uma constelação no coração de Campinas.

Nomes que ecoavam como sementes lançadas ao vento: Wilson Arrighi, Cecília de Godoy Camargo, Conceição de Toledo, Chico de Lacerda, Vera Araújo, Marcílio Giezbrecht, Wilma Viana... Jovens e maduros, tímidos ou destemidos, todos unidos por uma centelha comum: o desejo de dizer ao mundo que a arte ainda respira.

O Clube dos Poetas era mais que um espaço de leitura. Uma tenda para as almas sensíveis que não encontravam lugar no barulho da cidade. Era, sobretudo, uma chama. Uma luz acesa em plena noite da cultura. 

“Não esperem das autoridades aquilo que só os poetas sabem fazer: resistir.” Dizia Aloysio com firmeza serena. “Resistam escrevendo, resistam pintando, resistam vivendo com beleza. Porque um país sem arte é um corpo sem espírito.”

Naquela sala que acolhia música, poesia e fé no amanhã, não se discutia apenas literatura. Falava-se da vida, da ética, da dor dos que não têm voz, do futuro dos que ainda não nasceram, mas que um dia lerão os versos ali plantados.

Ao final de cada encontro, não havia aplausos, havia silêncio. Um silêncio sagrado. O tipo de silêncio que só nasce quando a alma reconhece que esteve em comunhão com o eterno.

E Aloysio, discreto como um monge das palavras não ditas, seguia pintando... não quadros, mas destinos.

 


 

Diário do Povo 2 de abril de 1968

Jornal com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente

“Clube dos poetas de Campinas é realidade”

 

“Aloysio Carvalho Moraes, lançou a ideia e os outros atacaram. Poeta já tem seu clube.”

 

“Clube dos Poetas de Campinas é uma entidade generis, que aguarda sua regularização como entidade cultural. Aloysio Carvalho Moraes, estudante e poeta, foi quem lançou a ideia de congregar numa sociedade os intelectuais campineiros que se dedicam à arte da poesia. Entendeu-se com Wilson Arrighi e ambos passaram a convidar os interessados na fundação para o primeiro encontro, onde a ideia, e as diretrizes a serem seguidas. O clube seria o traço de união entre os que fazem a poesia, congregando-os em seções literárias e artísticas, nas quais suas produções pudessem ser fidas e discutidas. Enfim, promover a difusão dessas obras que a maioria dos poetas costumam guardar nas gavetas, sem qualquer separação de estilo ou tendencia.

O clube afinal é realidade e sua diretoria se eleita na próxima reunião, a fim de dar sequência ao seu plano inicial. Sem a política, sem filiação ideológica e religiosa, a entidade vive em função da arte e do artista.

 

 

Espontaneidade

 

O poeta ainda é indefinível, tal como sua arte. Embora há quem afirme que “á poesia não nasce, é feita”, a verdade é que poesia sem inspiração é como vinho sem bouquet”­­­- falta-lhe o sabor.

Por isso ela é antes de tudo, a inspiração.

E inspiração não é feita, nasce. Nasce quando menos se espera, completamente alheia às experiências de ambientes e hora. Pode surgir em meio á alegria de um sorriso: pode brotar na profundidade de uma dor. Mas sem espontaneidade a poesia deixa de sê-lo.

Já o poeta ins. versos adequa não sai á caia de lemas e rimas de vez que são eles quem a procuram. Seu trabalho é apenas o de registrar no papel os impulsos do coração, transformados em pensamentos, Shakespeare, Dantes, Camões, resguardando-se as devidas distâncias, foram tão grandes poetas como Olavo Biela, Castro Alves e outros tantos, porque a mãe comum de sua arte foi a inspiração.

Os homens da cidade, que o clube reuniu e cujos nomes a maioria desconhece, podem ser as estrelas do amanhã. Mesmo porque todos os que hoje são conhecidos e admirados no mundo das letras e das artes também foram os anônimos de ontem, que andaram de porta em porta procurando o apoio para seu trabalho.

 

Planos Existem

 

Além dos sócios fundadores Clube dos Poetas de Campinas conta atualmente com 27 membros, num total, portanto de 30 pessoas inclusive de uma poetisa paulistana de nome Sarah, que aqui vem especialmente para as reuniões.

Entre os planos para breve, ou seja, logo após o registro da entidade e a eleição da primeira diretoria, figuram a criação de uma sede a formação do conjunto Os Jograis.

Uma biblioteca também está na cogitação dos idealizadores.

Intercambio com entidades culturais de todo o país, realização de palestras e maior estreitamento das relações com poetas de outras cidades e estados, tudo está sendo encarado como meta a ser atingida. Desse modo o Clube dos Poetas breve será mais um motivo de orgulho para Campinas, cidade de tantas tradições artísticas literárias. “


 

 

Onde nascem os versos.

Em minhas palavras - Poetisa Azul.

 

Campinas, década de esperança e inquietude. Uma cidade de sol firme e sombras longas, onde as janelas da arte teimavam em se abrir, mesmo quando os tempos exigiam portas fechadas. Foi nesse cenário que uma ideia nasceu como nascem os versos mais puros: inesperadamente.

 

Aloysio Carvalho Moraes não era apenas um estudante ou um pintor de almas, era um semeador. Viu na cidade uma terra fértil de talentos calados e gavetas abarrotadas de poesia. Onde outros enxergavam silêncio, ele sentiu um clamor invisível, um pedido de socorro vindo de poetas que escreviam para ninguém. Então, lançou a semente.

 

“Por que não um clube?” Disse, mais para o vento do que para os ouvidos. Mas o vento, cúmplice dos sonhadores, levou a ideia a outro coração sensível: Wilson Arrighi. Juntos, passaram a convocar, um a um, os que carregavam poesia no peito e ausência nos olhos.

 

Assim nasceu o Clube dos Poetas de Campinas, antes mesmo que papéis fossem assinados ou selos de autenticidade lhe fossem dados. Porque, afinal, a arte não espera carimbo: ela acontece.

 

A primeira reunião não foi solene, foi espontânea. Como todo nascimento verdadeiro, teve mais emoção do que protocolo. Não havia discursos grandiosos, apenas vozes tímidas de jovens e adultos que, pela primeira vez, ousavam ler em voz alta o que antes escondiam no fundo das gavetas. E isso, para um poeta, é um ato de coragem divina.

 

A proposta era simples, mas revolucionária: reunir os que escrevem, os que vivem a palavra, para que juntos possam crescer, partilhar e se iluminar mutuamente. Sem dogmas. Sem siglas. Sem fronteiras de estilo ou religião. Uma comunhão pura como se fosse uma irmandade fundada no altar da inspiração.

 

Ali não se perguntava qual escola literária você seguia. Não havia trincheiras entre o lírico e o modernista, entre o clássico e o marginal. O critério era outro: você escreve porque não consegue não escrever? Então, bem-vindo. Era essa a senha sagrada.

 

O poeta, como dizia Aloysio, não se fabrica. Ele nasce às vezes entre risos, às vezes entre lágrimas. A poesia, quando é verdadeira, não obedece à razão. Ela irrompe. Ela se impõe.

 

E aqueles que se uniam ali, em torno de um ideal quase místico, sabiam disso. Eram 30 nomes no início, incluindo a poetisa Sarah, que vinha de São Paulo só para beber dessa fonte nascente. Trinta vozes que começavam a formar um coro. Entre os planos, surgia a ideia de uma sede, de uma biblioteca, de um grupo de jograis. Mas, mais do que isso, havia a ambição de tocar almas.

 

O clube não queria apenas ler versos. Queria transformar vidas. Servir de ponte entre o anonimato e a visibilidade. Ser o farol de quem ainda caminhava em mares escuros.

 

Talvez um dia, pensavam eles, aqueles nomes ainda desconhecidos fossem lembrados nas páginas da história literária. Mas naquela noite, bastava estarem juntos. Bastava a certeza de que não estavam mais sozinhos.

 

E Aloysio, com a alma serena de quem apenas deu o primeiro passo, sorria com humildade. Ele sabia que a poesia é como uma semente: não se força a brotar, apenas se planta com amor e depois se espera que o tempo, o sol e a fé façam o resto.

 

O Clube dos Poetas de Campinas era, enfim, realidade.

Mas mais que isso: era milagre.

 

 

 Diário do Povo Campinas- 31 de maio 1968

 


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Clube Dos Poetas

“Hoje, às 20,30 horas, na Galeria de Arte Almeida Eça, situado no Edif. Visconde do Rio Branco (Galeria), á av. Francisco Glicério entre Costa Aguiar e Ferreira Penteado, será realizada a “Noite da Poesia”, onde os integrantes do referido clube irão apresentar as suas últimas criações poéticas de vanguarda e românticas. São as seguintes as pessoas que participarão desse recital: Wilson Arrighi, Aloysio Carvalho Moraes, Vicente Pereira Luna, Saira, Caio Cesar Folgar, Dante Alighieri Vita, José Hunziker, Alda Borgonovi Velloni, Geraldo Pinheiro, Tibiriça.”

 

O Convite

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

O convite não veio em papel timbrado, nem bordado em letras douradas. Veio no murmúrio das páginas do jornal, como quem sussurra ao ouvido dos atentos:

"Hoje, às 20h30... uma noite de poesia acontecerá."

 

A cidade de Campinas respirava seu ar cotidiano, distraída entre buzinas e passos apressados. Mas para as sensíveis os que escutam com a alma, aquela notícia era mais que um informe: era um chamado.

 

Na Galeria Almeida Eça, situada no Edifício Visconde do Rio Branco, entre as ruas Francisco Glicério, Costa Aguiar e Ferreira Penteado, o tempo se preparava para parar. Porque onde há poesia, o relógio desacelera. E onde há poetas reunidos, o invisível se faz presença.

Era a Noite da Poesia, organizada pelo recém-nascido Clube dos Poetas de Campinas. E naquela noite, cada verso seria um suspiro, cada declamação, uma oferenda ao mistério da arte.

 

Os nomes anunciados não eram celebridades, mas estrelas em formação:

Wilson Arrighi, Aloysio Carvalho Moraes, Vicente Pereira Luna, Saira, Caio César Folgar, Dante Alighieri Vita, José Hunziker, Alda Borgonovi Velloni, Geraldo Pinheiro, Tibiriçá.

Cada um trazia na garganta um mundo que precisava sair. Uma dor. Um encantamento. Uma verdade que só a poesia poderia carregar sem se despedaçar.

 

A galeria, geralmente silenciosa como um templo de quadros e esculturas, naquela noite ganharia voz. Voz múltipla, cheia de timbres, acentos e coragens. Ali, os versos de vanguarda encontrariam as rimas românticas. O novo se misturaria ao eterno. E as almas que se sentassem nas cadeiras dispostas em semicírculo perceberiam: estavam diante de algo maior que um recital estavam presenciando um ato de resistência luminosa.

 

Porque, num mundo cada vez mais prático, racional e apressado, reunir-se para ouvir poesia era quase um milagre. E cada poema lido ali seria uma vela acesa contra a escuridão do esquecimento.

Aloysio, que idealizara o Clube, sorria em silêncio. Aquilo era mais que a concretização de um sonho: era a prova de que a arte, quando semeada com fé, floresce até no asfalto.

 

E os poetas, um a um, foram tomando o centro da galeria. O coração batia acelerado, as mãos trêmulas seguravam papéis sagrados. E mesmo que a plateia fosse pequena, ali estavam todos os mundos: o amor, a perda, a esperança, o tempo.

 

Do lado de fora, o trânsito seguia, impassível. Mas dentro da galeria, algo eterno acontecia.

E para aqueles que foram tocados por algum verso naquela noite, não houve mais como voltar a ser os mesmos.

Porque a poesia quando é verdadeira deixa uma marca invisível.

E aquela noite foi um desses raros momentos em que o espírito da arte tocou o chão da cidade com os pés descalços

 

Diário do povo Campinas 14 de julho de 1968

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“Clube dos Poetas elegeu sua primeira diretoria”

 

“Aspecto da mesa que presidiu a escolha da primeira diretoria do Clube dos Poetas”

 

“Realizou-se no Centro de Ciência, Letras e Artes reunião do Clube dos Poetas, durante a qual foi eleita a nova diretoria da entidade. Estiveram presentes, vários membros de destaques do mundo literário campineiro, tendo comparecido também a poetisa itaperense Odete Coppos, especialmente convidada. Por unanimidade foi escolhido o nome da sra. Arita Damasceno Pettená para o cargo de presidente e o acadêmico Dante Allghieri Vita para o de Vice-presidente.

 

Ambiente Informal

 

A reunião que decorreu num ambiente informal, estiveram presentes entre outras as seguintes pessoas: Dantes Allghieri Vita, Wilson Arrighi, Aloysio Carvalho Moraes, Vicente Pereira Luna, Otavio Eggydio Junior, Antônio o Santos, Luiz Osório Tibiriça Barros, Benedito Beltrão e Odete Coppos, de Itapira.

O primeiro assunto tratado foi da escolha dos nomes que deveriam compor a primeira diretoria. Foi apresentado o do sr. Dante Allghieri Vita para presidente, tendo recebido aprovação por unanimidade, mas o escolhido recusou a indicação pela exiguidade de seu tempo e pelos vários cargos que já acumula. Assim, deliberou a mesa, acatando as justificativas do poeta, escolher outro nome tendo sido lembrados os nomes de dona Arita Damasceno Pettená e do sr. Wilson Arrighi, sendo por vários motivos que expões.

Assim, unanimemente, foi aclamada presidente o Clube dos Poetas dona Arita Damaceno Pettená, cuja escolha foi inundada com palmas pelos presentes. Após votação aberta foram escolhidos os nomes:

Dantes Allghieri para Vice- presidente

Aloysio Carvalho Moraes para primeiro secretário

Vicente Pereira Lima para segundo secretário

Wilson Arrighi para tesoureiro

Antônio dos santos para orador oficial

Tarcísio Sigrist, redator dessa página literária desta folha para diretor de relações públicas.

 

“Voto de Louvor”

Após a eleição, usaram da palavra várias pessoas tendo sido saudada a poetisa Odete Coppos pelo sr. Wilson Arrighi, que disse da satisfação dos membros do clube em tê-la presente à reunião. Está agradecendo proferiu rápidas palavras, dizendo que se sentia” feliz em poder estar assistindo à reunião” e prometeu divulgar a entidade através dos artigos que escreve para vários jornais, inclusive do Rio de Janeiro.

Foi apresentado na ocasião um voto de louvor à presidente eleita, dona Arita Damasceno Pettená, pela sua classificação no recente concurso instituído pelo Diário do Povo, no qual ganhou o seguinte prêmio com o poema “Pecado”.

O sr. Otávio Eggydio Junior pediu aos presentes a inserção na ala de um voto de pesar pelo passamento do vereador professor José Carlos Laselva, o que também foi aprovado por unanimidade.

Houve a seguir a apresentação de alguns trabalhos poéticos pelos próprios autores, discutindo-se a seguir pormenores relativos ao primeiro aniversário do Clube, encerrando-se depois a reunião.”

 

 

A Primeira Voz Unânime.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Foi no salão acolhedor do Centro de Ciências, Letras e Artes que a história selou um de seus momentos mais simbólicos. Com ares de simplicidade e profundidade, o Clube dos Poetas de Campinas dava um passo firme rumo à estruturação. Nascia ali, com legitimidade e entusiasmo, sua primeira diretoria eleita.

 

Não houve rigidez. A reunião teve o calor de uma conversa entre velhos amigos, ainda que cada um ali carregasse a chama nova de um sonho. Sentaram-se à mesa nomes já reverenciados nas rodas literárias da cidade: Aloysio Carvalho Moraes, Wilson Arrighi, Dante Alighieri Vita, Vicente Pereira Luna, Otávio Eggydio Junior, entre outros. E, como flor de surpresa, a presença da poetisa Odete Coppos, vinda de Itapira, abrilhantou a noite com sua leveza e comprometimento.

 

O primeiro nome sugerido à presidência foi o do próprio Dante Vita, mas, com humildade rara e alegando limitações de tempo, recusou a honra. Foi então que, por aclamação e entusiasmo, Arita Damasceno Pettená foi escolhida presidente. Uma mulher de verso firme e sensibilidade à flor da pele, cuja eleição foi recebida com palmas e emoção.

 

Compuseram a diretoria:

 

Dante Vita, vice-presidente.

 

Aloysio Moraes, 1º secretário.

 

Vicente Pereira Lima, 2º secretário.

 

Wilson Arrighi, tesoureiro.

 

Antônio dos Santos, orador oficial.

 

Tarcísio Sigrist, diretor de relações públicas.

 

 

A noite seguiu com saudações, votos de louvor e um instante de luto respeitoso pela partida do vereador José Carlos Laselva. Odete Coppos prometeu divulgar o clube em suas colunas literárias pelo Brasil e mais versos foram lidos, mais sonhos compartilhados.

 

Era mais que uma eleição. Era um pacto com a poesia. E aquele momento marcava, para sempre, o nascimento oficial de uma entidade que viria a dar voz a tantos poetas invisíveis, transformando gavetas em palcos, e silêncio em arte.

 

  

Correio Popular-Campinas 16 de junho de 1968

 

Texto

Descrição gerada automaticamente

 

“O Clube Dos Poetas, que já teve a sua de Concertos do Conservatório Carlos Gomes, no próximo dia 28 de junho, às 20horas, com a participação de Wilson Arrihi, Vicente Pereira Lima, José Hunziker, Alexandre Kalafre, Conceição Arruda Toledo, Arita Damasceno Pettená, Aluysio Carvalho de Moares, Cecilia de Godoy Camargo, Atina Batista, Mariza Lage, Dirce Nery, Caio Cezar Felgar, Dante A. Vita, dentro de uma linha totalmente romântica.”

 

 

Noite de Versos e Ecos Eternos.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Era junho de 1968. As ruas de Campinas estavam cobertas pelo frio sutil, mas um calor diferente pairava no ar, um calor vindo das palavras, dos sentimentos, da chama invisível da poesia.

 

O velho Conservatório Carlos Gomes, em seus salões silenciosos, preparava-se para receber não apenas músicos ou ouvintes, mas almas sensíveis em estado de flor. Naquela noite do dia 28, marcada no calendário por corações atentos, o Clube dos Poetas se reuniria para mais um concerto não de instrumentos, mas de vozes poéticas em harmonia.

 

Era mais que um evento. Era um reencontro com o belo, com o sutil, com o romântico. Ali não se entrava apenas com os pés, era preciso levar consigo a alma aberta, os ouvidos atentos e o coração desarmado.

 

Um a um, os nomes inscritos no cartaz ganhavam vida na memória dos frequentadores mais fiéis. Wilson Arrihi, com seus versos que dançavam como folhas ao vento; Vicente Pereira Lima, cuja pena parecia mergulhada nas águas profundas da emoção; José Hunziker, sempre com palavras precisas como notas bem-postas de um piano antigo.

 

Alexandre Kalafre trazia ares de modernidade, enquanto Conceição Arruda Toledo encantava com sua doçura ancestral. Arita Damasceno Pettená, senhora das imagens delicadas, e Aluysio Carvalho de Moraes, conhecido entre os amigos como “Garotinho”, misturavam paixão com sabedoria em seus versos densos.

 

Cecilia de Godoy Camargo desenhava cenas com sua pena, Atina Batista evocava as dores e alegrias da alma feminina, Mariza Lage rompia silêncios com ternura. Dirce Nery recitava como quem ora, e Caio Cezar Felgar erguia pontes entre o velho e o novo mundo da poesia. Dante A. Vita, por fim, encerrava como quem sela um pacto entre o tempo e a memória.

 

Naquela noite, não se tratava apenas de recitar poemas. Tratava-se de manter viva uma tradição: a de amar a palavra como quem cultiva rosas em tempos de guerra. Enquanto o Brasil enfrentava suas tempestades políticas e sociais, aqueles poetas teimavam em falar de amor, de beleza, de sonhos.

 

Era um ato de resistência silenciosa.

 

O público, atento, respirava junto com os versos. Alguns sorriam discretamente, outros enxugavam lágrimas tímidas. Todos sabiam, no fundo, que estavam vivendo algo raro: um instante suspenso no tempo, onde a poesia reinava soberana.

 

E quando a última palavra ecoou pelo salão, houve silêncio. Um silêncio respeitoso, quase sagrado. Depois, os aplausos demorados, sinceros, comovidos.

 

Ali, naquela noite romântica de junho, o Clube dos Poetas não apenas realizou um recital. Eles fincaram, no coração da cidade, mais uma estaca invisível de eternidade.

 

Cidade de Itapira 21 de julho de 1968

Texto

Descrição gerada automaticamente

Clube dos Poetas

 

“Recebi, com satisfação e Campinas, honroso convite para estar presente na reunião de Diretoria do Clube dos Poetas.

Lisonjeada, para lá me dirigir, às 20 horas. A reunião não aconteceu no auditório do Centro de Ciências e Artes, onde já se achavam os sócios que militam no campo da poesia, da escultura, da música, do canto e do jornalismo. Sua diretoria está composta das mais expressivas figuras, como sejam:

Dante Alighieri Vita, Wilson Arrighi, Vicente Pereira Luna, Otávio Egydio Roggiero Junior, Portela Torres, Luiz Osório Tibiriça, Antônio dos Santos, Benedito Beltrão, Aloysio Carvalho Moraes e Wagner P. DOS Santos.

A presidente, é a sra. Arita Damasceno Pettená, duas vezes premiada em poesia e um nome ilustre na intelectualidade de Campinas e do Brasil. Dante Alighieri Vita é esse cidadão notável, já muito conhecido, pois é membro do Instituto Geográfico e Histórico de São Paulo da Academia de Letras da Faculdade de Direito de São Paulo, jornalístico e crítico literário. A outra face do Soeyeti. Quanto ao senhor Vicente P. Luna, traz no olhar ardente aquela chama inatingível do calor das secas nordestinas. Bastante aclimado nos meios campineiros, embora, os seus versos traduzem ainda o torvelino que ficou na sua alma, diante da tragédia dos seus pagos, com a pedra roçadeira prenunciando o bem ou o mau agouro de ano, aos moradores da região!

Como eu conheço tudo isso, aportado ao Rio pelas levas dos pau-de-arara!

Sou amiga pessoal de muitos poetas e conferistes filhos do nordeste que, como Luna, repetem em versos e em prosa aquele problema que é nacional e que preocupa tanto o nosso governo!

No Clube dos Poetas, reuniram-se os jovens de todas as idades. Al lado de Wilson Arrighi, o bardo das epopeias vibrantes, está o Tibiriça cabeludo e com iodas as características do jovem de vanguarda. Tentou como Alighieri Vita, Antônio dos Santos e Arrighi, altear-se como árvore esgalhada em sabedoria, experiências e vivências, mas descobria em tempo que está ainda em plena mocidade, no limiar do grande portão que conduziu seus companheiros é fama. Assim acabou cedendo aos ditames de coração e hoje verseja o amor. Continue, Tibiriça. A sua face atual é bela porque é a dos jovens.

Não deixe que o que há de vir, interponha-se com os seus complexos, desde já, obstruindo a sua alegria e o poder de sonhar e amor, Beltrão, é barritone e já o era antes de ser diretor artístico do Clube dos Poetas. Sua história merece capítulo à parte. Foi circense e andou a fazer o público rir das suas palhaçadas. Ao contar-me, esclareceu um particular que acho bom os leitores saber: Circo Americano é aquele armado em estacas, que leva um único espetáculo. Tem o nome — Americano — porque essa modalidade se originou nos Estados Unidos, não querendo dizer que seja a Companhia estadunidense. Os demais circos, são considerados comuns, porque fincados em pais. Agora é crente, pai de família, comerciante, cantor sacro e folclórico, com programas shows e discos lançados além de ser estudante.

Aloysio C. Moares, o simpático moreno, através de quem penetrei no Clube também é jovem da vanguarda e primeiro secretário e esforçado fundador.

Sua mãe é poetisa e foi artista de teatro. Transmitiu ao filho adivinha herança da arte, embora de início o moço tenha cursado medicina e filosofia. E pintor dos mais sensitivos e sua tela expostas no Mamance Campinas, reproduz algo sobre seus estudos na Faculdade de Medicina, razão por que deu o nome a esse trabalho artístico de Vida e Morte. Tem sua coluna no Correio Popular e escreve sobre arte.

A reunião do Clube dos Poetas, realizadas para tratar de assuntos de diretoria, acabou em declamação e canto e um gostoso final cheio de cordialidade do qual guardo as mais carinhosas impressões.

E sempre assim, quando se trata de reunião de poetas. Esquece-se da rotina para transformar-se ambiente numa quimérica, mas bendita presença do belo que conforta e enobrece.”

 

 

Noite de Versos e Ecos Eternos.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

 

Era junho de 1968. As ruas de Campinas estavam cobertas pelo frio sutil, mas um calor diferente pairava no ar, um calor vindo das palavras, dos sentimentos, da chama invisível da poesia.

 

O velho Conservatório Carlos Gomes, em seus salões silenciosos, preparava-se para receber não apenas músicos ou ouvintes, mas almas sensíveis em estado de flor. Naquela noite do dia 28, marcada no calendário por corações atentos, o Clube dos Poetas se reuniria para mais um concerto não de instrumentos, mas de vozes poéticas em harmonia.

 

Era mais que um evento. Era um reencontro com o belo, com o sutil, com o romântico. Ali não se entrava apenas com os pés, era preciso levar consigo a alma aberta, os ouvidos atentos e o coração desarmado.

 

Um a um, os nomes inscritos no cartaz ganhavam vida na memória dos frequentadores mais fiéis. Wilson Arrihi, com seus versos que dançavam como folhas ao vento; Vicente Pereira Lima, cuja pena parecia mergulhada nas águas profundas da emoção; José Hunziker, sempre com palavras precisas como notas bem-postas de um piano antigo.

 

Alexandre Kalafre trazia ares de modernidade, enquanto Conceição Arruda Toledo encantava com sua doçura ancestral. Arita Damasceno Pettená, senhora das imagens delicadas, e Aluysio Carvalho de Moraes, conhecido entre os amigos como “Garotinho”, misturavam paixão com sabedoria em seus versos densos.

 

Cecilia de Godoy Camargo desenhava cenas com sua pena, Atina Batista evocava as dores e alegrias da alma feminina, Mariza Lage rompia silêncios com ternura. Dirce Nery recitava como quem ora, e Caio Cezar Felgar erguia pontes entre o velho e o novo mundo da poesia. Dante A. Vita, por fim, encerrava como quem sela um pacto entre o tempo e a memória.

 

Naquela noite, não se tratava apenas de recitar poemas. Tratava-se de manter viva uma tradição: a de amar a palavra como quem cultiva rosas em tempos de guerra. Enquanto o Brasil enfrentava suas tempestades políticas e sociais, aqueles poetas teimavam em falar de amor, de beleza, de sonhos.

 

Era um ato de resistência silenciosa.

 

O público, atento, respirava junto com os versos. Alguns sorriam discretamente, outros enxugavam lágrimas tímidas. Todos sabiam, no fundo, que estavam vivendo algo raro: um instante suspenso no tempo, onde a poesia reinava soberana. 

E quando a última palavra ecoou pelo salão, houve silêncio. Um silêncio respeitoso, quase sagrado. Depois, os aplausos demorados, sinceros, comovidos.

 

Ali, naquela noite romântica de junho, o Clube dos Poetas não apenas realizou um recital. Eles fincaram, no coração da cidade, mais uma estaca invisível de eternidade.

 

 

 

O repórter- Santo André- 28 de julho de 1968

Jornal com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente

Trabalhos realizados pelo Clube dos Poetas de Campinas.

 

“Recital de Poesia e Folclore”

“Esteve ontem no ateliê da pintora Emília Ceccarelli, no Bom Retiro, o Clube dos Poetas de Campinas, onde apresentou um recital de Poesia e canções folclóricas.

Formaram parte, Aloysio Carvalho Moraes, fundador do Clube e pintor, professor Antônio dos Santos, Arita Damasceno Pettená, que já foi vencedora de três concursos de poesia, o compositor Benedito Beltrão, cantor de música folclóricas, Dantes Allghieri Vita professor da Universidade Católica de Campinas, radicado nos meios literários, diretor do Centro de Ciências Letras e Artes daquela cidade, Octavio Egydio Ruggiero, o que está para lançar um livro de canto denominado “O canto do Povo”.

O encontro de ontem, ocorrido na rua Solon,256, às 17 horas, tendo participado diversos artistas e amigos da poesia e do nosso folclore.”

 

Na Rua Sólon, 256

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Era um fim de tarde suave, daqueles que parecem já nascer com saudade. O relógio marcava cinco horas quando a rua Solon, no bairro do Bom Retiro, ganhou um brilho diferente. Havia algo no ar que nem mesmo os passantes distraídos conseguiam ignorar: uma vibração silenciosa, como se o próprio asfalto soubesse que, naquela casa de número 256, algo extraordinário estava prestes a acontecer.

O velho ateliê da pintora Emília Ceccarelli, sempre repleto de pincéis e telas inacabadas, tornara-se, por uma tarde, templo da palavra e do canto. As paredes, antes silenciosas, agora preparavam-se para escutar. E as cortinas, que tantas vezes filtraram a luz para proteger as cores, abriram-se sem reservas ao brilho da poesia.

 

Ali, chegou ao Clube dos Poetas de Campinas, trazendo consigo não apenas versos e melodias, mas uma reverência quase sagrada à cultura popular brasileira.

Aloysio Carvalho Moraes, com seus olhos de artista e alma de fundador, abriu o encontro. Pintor e poeta, ele parecia unir no gesto e na fala o que há de mais puro nas artes visuais e na literatura. Ao seu lado, Antônio dos Santos, professor de espírito inquieto e amante da palavra bem-dita, recitava com precisão matemática e paixão de trovador.

Arita Damasceno Pettená, já vencedora de três concursos poéticos, fez-se presente com a leveza de quem carrega nas mãos a pena e a espada: poesia como instrumento de beleza, mas também de presença, de resistência, de afirmação. Sua voz envolvia os presentes como um bordado em forma de som.

E então surgiu ele, Benedito Beltrão, cantor de alma folclórica e compositor que trazia na memória o riso do circo e, na garganta, os cantos da terra. Sua voz ecoava como os sinos de uma capela rural, não pela solenidade, mas pela familiaridade. Cada nota, um fragmento de histórias vividas, de sertões percorridos, de lembranças ancestrais.

Dante Alighieri, sempre erudito, mas de presença calorosa, representava a ponte entre o mundo acadêmico e o lirismo popular. Professor da Universidade Católica, diretor do Centro de Ciências, Letras e Artes, trazia em sua fala a autoridade do saber, mas também a simplicidade de quem conhece o poder do silêncio entre os versos.

E então, entre declamações e canções, Octavio Egydio Ruggiero anunciou seu projeto: *


 

 

Correio Popular- Campinas 2 de outubro de 1968

Imagem em preto e branco com texto preto sobre fundo branco

Descrição gerada automaticamente

Clube dos Poetas de Campinas

“Estiveram reunidos no dia 30 de setembro, no Centro de Ciências, Letras e Artes, os poetas Wilson Arrighi, Vicente Pereira Luna, Dante Alighieri Vita, Arita Damaceno Pettená, Conceição Arruda Toledo, João Gurgel, Otávio Eggydio Jr, Antônio dos Santos, Maria Geny Batista, Lima Coimbra, Regina Celia Vallm, Sandra Peyrer Monteiro, Maria Tereza Bayna. Os quais em um ambiente poético, declamaram os seus últimos trabalhos, conjuntamente com a cronista Miriam Nazarreth que apresentou suas últimas crônicas. A diretoria presente deu um voto de louvor pela nomeação do poeta Dante A. Vita para a Academia Campinense de Letras. Houve números folclóricos ao violão a cargo da graciosa Maria Tereza Bayna, como também, foi proposto e aprovado um recital de poesia para a noite da última quinta-feira de outubro, na qual devera estar presente o poeta Guilherme de Almeida, onde na presença de convidados o Clube dos Poetas de Campinas, irá mais uma vez dar mostras de capacidade de seus membros. A diretoria, por intermédio do secretário Vicente Pereira Luna, convida para a próxima reunião, os seguintes poetas: Arita Damasceno Pettená, Dante A. Vita, Wilson Arrighi, Conceição A. Toledo, João Gurgel, Otávio E. Jr, Antônio dos Santos, Roque Palacio, Tibiriça, Karolina, Maria Geny, Douglas Santos, Sandra P. Monteiro, Maria T. Bayna, Miriam Nazareth, Antônia Gorayes, Maria j. Batista, Maria Lage, Edgar Ferreira, Laerson Moraes, Clodoaldo Hanzilter, José H. , Moacir Andrade, Benedito Beltrão, Claudio Vasconcelos,  Walfredo Alencar, Geraldo Pinheiro, Mauricio de Mores , Aloysio Carvalho Moares,, Nice do Santos, Amaury Souza, Joluma Brato e Antônio Berroca”

 

Poetas, Crônicas e Cordas de Violão.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Era fim de setembro, e os primeiros ventos da primavera já balançavam as folhas das árvores ao redor do velho casarão do Centro de Ciências, Letras e Artes de Campinas. Naquela noite de 30 de setembro de 1968, um calor leve invadia as janelas abertas, como se a própria estação quisesse assistir à reunião.

O Clube dos Poetas de Campinas havia se reunido mais uma vez e, como sempre, os encontros entre versos e almas não aconteciam sem magia. A sala estava viva: poemas dançavam no ar antes mesmo de serem lidos, e os sorrisos cúmplices dos presentes selavam pactos invisíveis com a arte.

 

Ali estavam os nomes já conhecidos, fiéis frequentadores do templo das palavras:

Wilson Arrighi, com sua veia épica vibrando em cada estrofe.

Vicente Pereira Luna, trazendo no olhar as secas nordestinas e na voz, a esperança molhada da poesia.

Dante Alighieri Vita, aclamado naquela noite com um voto unânime de louvor por sua nomeação à Academia Campinense de Letras, reconhecimento mais que merecido àquele que vivia entre os livros como quem caminha entre velhos amigos.

 

Arita Damasceno Pettená declamou com elegância suas mais novas composições, e Conceição Arruda Toledo encantou os presentes com versos firmes, quase oraculares. João Gurgel, Otávio Eggydio Jr., Antônio dos Santos, Maria Geny Batista, Lima Coimbra, Regina Célia Vallm, Sandra Peyrer Monteiro e Maria Tereza Bayna também compartilharam seus últimos trabalhos, numa ciranda de palavras que abraçava todos os presentes.

Em meio aos poemas, uma pausa: Miriam Nazareth, a cronista, trouxe reflexões em prosa que pareciam costurar os sentimentos da noite. Falava do tempo, do instante, das pequenas grandezas do cotidiano, e todos ouviam como se cada palavra sua fosse uma pétala de memória.

Mas a noite guardava ainda outras belezas.

Com seu violão nos braços, Maria Tereza Bayna entrou em cena, dedilhando melodias do folclore que acenderam lembranças de infância e raízes em cada canto da sala. Sua voz delicada enlaçava-se às cordas como as palavras se entrelaçavam nos poemas. Ali, naquele instante, a música não era apenas som: era ponte, era chão, era memória compartilhada.

Ao final, foi proposta e aprovada com entusiasmo a realização de um grande recital de poesia para a última quinta-feira de outubro, que teria a presença confirmada do ilustre poeta Guilherme de Almeida. A notícia percorreu os corações como faísca entre folhas secas: o entusiasmo renasceu em cada olhar.

A diretoria, por meio do secretário Vicente Pereira Luna, anunciou os convidados para a próxima reunião. A lista era longa e bela como um poema coral: nomes como Roque Palácio, Tibiriçá, Karolina, Douglas Santos, Antônia Gorayes, Maria Lage, Edgar Ferreira, Maurício de Moraes, Aloysio Carvalho Moraes, Nice dos Santos, Amaury Souza, entre tantos outros, compunham o corpo vivo de uma geração que se entregava à arte com ardor.

Não havia vaidades, nem pretensões de glória. Cada um, ao seu modo, era parte de uma constelação em movimento. O Clube dos Poetas não era apenas uma entidade cultural: era um coração que pulsava por Campinas e pelo Brasil, fazendo da arte um ato de resistência, comunhão e beleza.

Ao fim do encontro, quando os versos já haviam sido lançados ao vento e os acordes do violão ainda ecoavam nas paredes, todos saíram com a certeza de que a poesia, como a primavera, sempre volta. E ali, no casarão de portas abertas, ela sempre encontraria abrigo.

 

 

 

Correio Popular - Campinas 31 de maio de 1968

Uma imagem contendo Quadro de comunicações

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Clube dos Poetas de Campinas

 

“No dia 31 de maio, às 20:30 horas, na Galeria de Arte Almeida situada na Galeria Visconde do Rio Branco embaixo do edifício do mesmo nome, a av. Francisco Glicério entre a Costa Aguiar e Ferreira Peteado, estará acontecendo o Recital de Poesias a cargo dos elementos do Clube dos Poetas de nossas cidades, os quais apresentarão as suas composições poéticas.

Estarão se apresentando nessa noite de poesias, os seguintes elementos: Wilson Arrighi, Vicente Pereira Luna, Jose Hunziker, Tibiriça, Caio Cesar Felgar, Geraldo Pinheiro, Alda Borgonovi Velloni, Saira, Dante Alighieri Vita e Aloysio Carvalho Moraes

Essa noite de poesia, terá a apresentação de verde vanguarda como também românticos.”


 

Versos sob a Luz da Galeria.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Naquela noite de 31 de maio de 1968, as luzes da Galeria de Arte Almeida, sob o edifício Visconde do Rio Branco, pareciam mais douradas que de costume. A Avenida Francisco Glicério respirava agitação. Entre as esquinas da Costa Aguiar e Ferreira Penteado, a arte preparava seu banquete e os poetas, suas oferendas.

Era uma sexta-feira, e o relógio marcava vinte e trinta quando os primeiros acordes do silêncio literário tomaram a sala. O Clube dos Poetas de Campinas se fazia presente, e a galeria, acostumada a receber quadros e esculturas, agora recebia palavras. Palavras vívidas, bordadas com alma, tingidas de vanguarda e saudade.

No centro do palco improvisado, Wilson Arrighi abriu a noite com versos vibrantes, sua voz firme cortando o ar como lâmina de luz. Em seguida, Vicente Pereira Luna trouxe sua poesia marcada pelas lembranças do sertão, e cada estrofe era como um vento seco atravessando as pedras, cheio de histórias e emoção.

José Hunziker, com elegância precisa, mergulhou em reflexões existenciais, enquanto Tibiriçá, o jovem cabeludo e de olhos vivos, flertava com a modernidade, recitando como quem costura rebeldia e ternura numa mesma estrofe. Caio César Felgar encantou com imagens sutis, que se esgueiravam como sombras de pintura pela parede branca da galeria.

 

Geraldo Pinheiro, com voz grave, ofereceu poemas quase oraculares, enquanto Alda Borgonovi Velloni, uma das poucas mulheres naquela noite, emocionou a plateia com versos que traziam a delicadeza do feminino e a força de quem rompe limites com a palavra. Saira, de timbre raro e sensibilidade refinada, declamou um poema sobre o amor que foi como um suspiro coletivo leve, doce e universal.

Dante Alighieri, já referência na cidade, trouxe poemas de cadência clássica, mas com frescor de primavera. Sua presença era como a de um mestre entre amigos. Por fim, Aloysio Carvalho Moraes, o pintor, o filósofo, o poeta, fechou a sequência com um poema inédito que mesclava vida e morte, arte e existência, palavra e pincelada.

A plateia, com olhos cheios de estrelas e ouvidos atentos, via-se mergulhada em uma noite rara: um recital onde romantismo e vanguarda não se enfrentavam, mas dançavam juntos. A poesia era ora bússola, ora labirinto, e todos pareciam gratos por se perder ali.

Nos intervalos, os corredores da galeria enchiam-se de vozes. Poetas e ouvintes trocavam impressões, contatos, promessas de leituras futuras. Em meio aos quadros que enfeitavam as paredes, os versos ecoavam, como se fizessem parte da exposição permanente da alma campineira.

A noite encerrou-se sem pressa. Porque em noites como aquela, o tempo não se mede com ponteiros, mede-se com suspiros, aplausos e lembranças. Ao saírem, os presentes levavam mais do que lembranças de um recital: levavam a certeza de que Campinas pulsava arte, e que a poesia continuaria viva, firme e generosa, enquanto houvesse quem a dissesse em voz alta.

 



O Repórter- Santo André 4 de agosto de 1968

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Momentos de Poesia e de Folclore

Sábado passado, diversos artistas de Campinas, reuniram-se na residência da pintora Emília Ceccarelli em São Paulo quando apresentaram números diversos, especialmente canções do nosso folclore.

Os amigos da poesia, intelectuais e mestres ofereceram trabalhos do gênero que foram bastante apreciados.

Nessa foto mostra a pintora Emília quando se dirigia aos seus colegas e partes dos artistas e intelectuais que estiveram em sua casa para esse encontro.


 

Folclore, Pintura e Verso na Casa da Artista.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Era sábado. O entardecer se derramava sobre as janelas da casa da pintora Emília Ceccarelli, no bairro Bom Retiro, em São Paulo. Lá dentro, a arte fazia morada. Os quadros vibravam nas paredes como se ansiassem por ouvir poesia. E ouviram.

A residência da artista tornara-se ponto de encontro para poetas, músicos, professores e sonhadores de Campinas. A cidade vizinha se fazia presente com seus talentos, em mais um gesto de intercâmbio cultural promovido pela chama sempre acesa do Clube dos Poetas de Campinas.

Emília, anfitriã generosa e sensível, abriu as portas de sua casa como quem abre os braços a velhos amigos. Seus olhos brilhavam ao ver os cômodos se encherem de vida. Quando se dirigiu aos colegas, sua fala era pontuada por sorrisos e o respeito mútuo entre os que partilham da mesma paixão: a arte.

Os convidados não vieram apenas assistir, vieram participar. Trouxeram na bagagem o lirismo de seus versos e as raízes do nosso povo em forma de canções folclóricas. A sala transformou-se em palco, e cada canto da casa, em cenário vivo de cultura popular.

Aloysio Carvalho Moraes, pintor e poeta, caminhava entre as palavras e as cores, fazendo pontes entre poesia e imagem. Ao lado de Antônio dos Santos, professor e declamador, e da sempre presente Arita Damasceno Pettená, aclamada por seus prêmios e lirismo, formavam uma tríade que encantava e inspirava.

O compositor Benedito Beltrão, com seu violão folclórico, deu tom ao encontro. Suas canções entoadas com o sotaque do interior e a alma dos rincões ecoavam com simplicidade e verdade. Os presentes batiam palmas não apenas em ritmo, mas em reconhecimento.

Não era uma reunião formal. Não havia palco. Mas havia comunhão. Os versos eram lidos sentados no sofá, de pé junto ao aparador, entre xícaras de café e risos compartilhados. Era como se os salões dos antigos saraus renascessem naquela casa, em pleno século XX, nas vozes de homens e mulheres comuns, extraordinários pelo que carregavam no peito.

 

A fotografia do jornal, publicada dias depois, capturava o instante em que Emília Ceccarelli falava aos amigos. Seus braços ligeiramente erguidos, o olhar firme e caloroso, como quem agradece por ter encontrado ali, entre telas e palavras, a confirmação de que a arte ainda pulsa, ainda une, ainda transforma.

 

Naquela noite, ninguém foi embora com as mãos vazias. Levaram nos bolsos os versos dos outros, nas retinas as imagens da pintura viva daquele encontro, e nos corações a certeza de que o Brasil é mais bonito quando canta sua alma em poesia e folclore.

 

Correio Popular- Campinas 28 de junho de 1968

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Clube Dos Poetas

Hoje, às 20 horas, no salão de concertos do Conservatório Musical “Carlos Gomes” o Clube dos Poetas de Campinas estará realizando o seu segundo recital de poesias, no qual serão apresentados novos valores, dentre os quais a sra. Arita Damasceno Pettená e o sr. Otavio Eggydio Roggiero Junior, com seus poemas românticos. Também se apresentarão, os poetas Wilson Arrighi, Vicente Pereira Luna, Dante Alighieri Vita, José Hunziker, Antônio dos Santos, Alexandre Kalafre e Aloysio Carvalho Moraes.

As poesias terão fundo musical a cargo do pianista Orlando Fagnani.

Para esse recital, o Clube dos Poetas de Campinas convida todos os apreciadores da poesia, já que a entrada é franqueada a todos.

 

 

Vozes na Noite do Carlos Gomes

Em minhas palavras – Poetisa Azul

 

Naquela noite fria de junho de 1968, os lampiões da rua Bernardino de Campos mal conseguiam vencer a névoa que descia sobre Campinas. Mas havia luz, muita luz, concentrada no salão de concertos do Conservatório Musical “Carlos Gomes”, onde poetas e apaixonados pela palavra se reuniam para o segundo recital do Clube dos Poetas de Campinas.

A porta de madeira pesada se abriu para os que ainda acreditavam no poder da poesia. Nenhum ingresso era necessário bastava o amor às letras. A cidade, ainda marcada por silêncios e censuras, encontrava naquele espaço o alívio dos versos, a liberdade camuflada nos ritmos das almas inquietas.

O pianista Orlando Fagnani, já acomodado ao piano de cauda, dedilhava melodias suaves enquanto o público tomava seus lugares. A música preparava o terreno para o desfile das emoções que estavam por vir. Não se tratava apenas de um recital era um chamado, uma convocação para que a poesia resistisse, florescesse, persistisse.

A jovem senhora Arita Damasceno Pettená subiu ao palco com um volume de poemas nas mãos trêmulas, mas os olhos firmes. Sua voz, suave e firme, falou de amor, de ausências e de esperanças. Era a estreia de um novo nome, uma nova chama que se acendia sob o olhar atento dos mestres.

Logo após, Otavio Eggydio Roggiero Junior trouxe à cena seus poemas românticos, com rimas bem costuradas e o brilho de um coração ainda em descoberta. Seu lirismo encontrava eco nos rostos que o observavam havia ali verdade, emoção e entrega.

Entre os veteranos, Wilson Arrighi recitou com sua voz grave como trovão contido, enquanto Vicente Pereira Luna trouxe à tona a leveza das madrugadas em Campinas. Dante Alighieri Vita, com nome de gênio renascentista, entoou versos carregados de existencialismo e fé. José Hunziker foi preciso, quase cirúrgico, com sua poesia concisa e elegante. Antônio dos Santos, simples como o povo, tocou com palavras os dramas cotidianos. Alexandre Kalafre incendiou os espíritos com metáforas ousadas. E por fim, Aloysio Carvalho Moraes, o “Garotinho”, subiu ao palco como quem volta ao lar e com um poema sobre liberdade, fez calar a plateia. Cada palavra sua era uma centelha de resistência, uma vela acesa contra as trevas da época.

Ali, entre os sons do piano e os aplausos sentidos, a poesia ganhava corpo e voz. Naquela noite, o Clube dos Poetas de Campinas não era apenas um grupo literário era um sopro de eternidade.

 

 

Correio Popular- Campinas – 28 de junho de 1968

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II Recital De Poesias

Às 8 da noite hoje no conservatório Musical Carlos Gomes haverá o II recital de poesias do Clube de Poetas de Campinas. Serão apenas poesias românticas, dos poetas e poetisas.

Dante Alighieri Vita, Wilson Arrighi, Vicente Pereira Luna, José Hunziker, Tibiriça, Geraldo Pinheiro, Antônio dos Santos, Cecília de Godoy Camargo, Conceição Arruda Toledo, Arita Damasceno Pettená, Aloysio Carvalho Moraes, Dirce Nery, Marisa Laje, Anita Batista, Alexandre Kalape, Caio Cesar Felgar, Otavio Eggidio Roggiero Jr., Mauricio de Moraes e Deny Manzan.

Esse recital é franqueado ao público, sendo convidados todos aqueles que gostam de poesia e também que sejam poetas.

 

 

 

Correio Popular- Campinas 9 junho de 1968

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Clube Dos Poetas

 

Numa promoção do coordenador da Galeria de Arte Almeida Eça, o Clube dos Poetas de Campinas, sob o comando de seu fundador o acadêmico de direito — pintor — escultor — desenhista, Aloysio Carvalho Moraes, realizou dia 31 de maio um recital de poesias de seus integrantes.

Foram os seguintes, os poetas presentes: Wilson Arrighi, José Hunziker, Chico de Lacerda, Geraldo Pinheiro, Saira, Vicente P., Luna e Aloysio C. Moraes.

 

Poesia entre Telas e Estátuas

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Era o fim de maio de 1968 quando a arte resolveu conversar consigo mesma na cidade de Campinas.

Na Galeria de Arte Almeida Eça, entre quadros de cores vivas e esculturas de pedra calada, a poesia ganhou voz e palco. Numa promoção idealizada pelo coordenador da galeria, o espaço que normalmente silenciava os passos dos observadores transformou-se num templo vibrante de palavras. E lá estava ele: Aloysio Carvalho Moraes, o anfitrião dos versos e dos traços, conduzindo com entusiasmo o recital que reuniria os poetas do Clube dos Poetas de Campinas, do qual era o criador e mentor.

 

Aloysio não era apenas poeta, era também pintor, escultor, desenhista e acadêmico de Direito. Um homem múltiplo, daqueles que viviam com a alma cheia de urgência e beleza, como se soubessem que a arte é sempre maior do que os seus limites.

Às sete e meia da noite, as luzes da galeria se apagaram lentamente, ficando apenas os focos sobre a tribuna improvisada, entre duas esculturas de corpo feminino. Do lado esquerdo, uma tela abstrata parecia pulsar com a expectativa do que viria. Do lado direito, uma figura moldada em bronze parecia ouvir.

Wilson Arrighi foi o primeiro a se apresentar. Sua poesia trazia a urbanidade da vida moderna, o descompasso entre o homem e a máquina. Seus versos eram como placas de trânsito poético, indicando caminhos por onde a alma podia ou não seguir.

Logo em seguida, José Hunziker, com sua escrita elegante e introspectiva, deu voz às saudades que só as sensíveis sentem. Seus versos não gritavam, sussurravam e mesmo assim ecoavam no coração dos ouvintes.

Chico de Lacerda subiu ao microfone com o olhar sereno de quem sabe rir da vida e chorar com ela. Seu poema, dedicado a uma mulher desconhecida que viu num bonde antigo, arrancou sorrisos e suspiros. Era o amor transformado em nostalgia rimada.

 

Geraldo Pinheiro trouxe para o recital a força do campo, da terra, da luta. Sua poesia era quase um aboio, quase um protesto. Em sua voz, cada palavra carregava o peso dos silêncios da história brasileira.

 

Saira, única mulher daquela noite, encantou com sua poesia leve e carregada de simbolismos. Falava de flores que nasciam nos desertos e de pássaros que cantavam mesmo em tempestades. Seu nome parecia um poema em si.

Vicente Pereira Luna, ou apenas Luna, fechou a sequência antes de Aloysio. Seu estilo oscilava entre a modernidade e o lirismo clássico. Falava de memórias, de infância, de luas que iluminam madrugadas de quem ainda espera algo. Como quem escreve com saudade de tudo o que ainda não viveu.

Por fim, Aloysio subiu ao palco e não apenas recitou: interpretou. Suas palavras falavam da arte como ponte entre mundos, como cura para as dores invisíveis. Ali, ele não era apenas um homem: era a união de todos os que estavam ali reunidos, o escultor que moldava o som, o pintor das imagens mentais, o poeta que desenhava sentimentos.

Quando as luzes se acenderam, ninguém aplaudiu de imediato. Havia um silêncio de reverência, de digestão da beleza. Era como se todos precisassem de mais um pouco para sair do transe que a poesia havia provocado.

Naquela noite de 31 de maio, entre telas e estátuas, a poesia encontrou abrigo e fez morada. E o Clube dos Poetas de Campinas mostrou, mais uma vez, que a arte só precisa de uma fresta para florescer.



Correio Popular- Campinas 28 de junho de 1968

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Momento Social

No Conservatório Musical Carlos Gomes, hoje, às 20 horas, Noite de Poesia, com a participação de Vicente Pereira, Seara, Wilson Arrighi, Arita Damasceno Pettená, Otavio Eggydio Ruggiero Junior, José Hunziker, Aloysio Carvalho Moraes, Antônio dos Santos, Alexandre Kalaffe e Dante Alighieri Vita.

 

 

Diário do Povo Campinas 26 fevereiro 1969

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Nova Reunião do Clube dos Poetas

“O Clube dos Poetas de Campinas estará reunindo-se dia 28, na sala do conselho das Entidades do Bairro, numa gentileza do sr. Luis Roccatto. Para essa reunião na qual serão debatidos, os mais variados temas, entre os quais a posse da nova diretoria e aprovação de estatutos.

Estão convocados para referida reunião os seguintes componentes do Clube dos Poetas:

Vicente Pereira Luna, Antônio dos Santos, Dante Alighieri Vita, Aloysio Carvalho Moraes, Arita Damasceno Pettená, Conceição Arruda Toledo, Karolina Atina Gorayes, Maria José Baptista, Mariza Lage, Wilson Arrighi, Edgar Ferreira, Francisco Aguiar, Laerson Moraes, Mauricio de Moraes, Clodoaldo Hunziker, Moacir Andrade, Beltrão Oliveira , Claudio Vasconcelos, Walfredo Alencar, Wilma Viana, Nice dos Santos, Amaury Souza, Joluma Brito, Iracema Vitali, José Hunziker, Ilma Coimbra, Reina Valim, Maria Bayana, Sandra Monteiro, Jose Gurgel, Tibiriça, Fabio Mendes, Otávio Rogerio Jr., Eunice André Martorelli,.

A reunião será realizada na sala de Conselho das Sociedades de bairro no espaço Municipal AV. Anchieta às 19;00 horas.”


 

Os fundadores do Silêncio Falante.

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Era fevereiro de 1969. O calor úmido de Campinas parecia repousar sobre cada telha da cidade, mas naquela tarde, um grupo de homens e mulheres caminhava com outro tipo de ardor, o da palavra viva. Na sala do Conselho das Entidades do Bairro, cedida com gentileza pelo senhor Luis Roccatto, reuniram-se novamente os poetas. Não para recitar, mas para decidir.

O Clube dos Poetas de Campinas, em pleno vigor, atravessava uma fase de consolidação. Aquela reunião tinha algo de solene: nela seriam debatidos temas fundamentais à posse da nova diretoria e à aprovação dos estatutos, elementos que dariam corpo jurídico ao espírito já pulsante do grupo.

Aloysio Carvalho Moraes, fundador e figura central daquele movimento, chegou com sua pasta de couro surrada e olhos que pareciam carregar décadas de criação. Sua presença era um poema em si: discreta, intensa, inegável.

Vicente Pereira Luna, Antônio dos Santos e Dante Alighieri Vita se acomodaram juntos, discutindo em murmúrios o papel do poeta num país em ebulição. Cada frase era metade lembrança, metade profecia.

Arita Damasceno Pettená e Conceição Arruda Toledo, com semblantes atentos, revisavam documentos e sugeriam ajustes com a sabedoria de quem sabe que a arte também precisa de estrutura. Karolina Atina Gorayes, recém-chegada ao grupo, ouvia e anotava com respeito e curiosidade.

 

Maria José Baptista e Mariza Lage conversavam sobre projetos voltados às escolas e comunidades. Queriam fazer a poesia sair dos salões e tocar as ruas, os quintais, os olhos das crianças.

Wilson Arrighi, Edgar Ferreira, Francisco Aguiar e Laerson Moraes trocavam memórias dos primeiros recitais, recordando noites em que os versos pareciam mais fortes que o mundo lá fora. Maurício de Moraes, Clodoaldo Hunziker, Moacir Andrade e Beltrão Oliveira dividiam ideias sobre publicações e oficinas.

Todos estavam lá presentes de corpo e espírito.

A reunião foi conduzida com firmeza e delicadeza. Entre debates e decisões, uma certeza pairava no ar abafado de fevereiro: o Clube não era apenas um coletivo literário, era um compromisso com o tempo. Era um grito suave contra o esquecimento.

Ao final da noite, enquanto os papéis eram assinados e os sorrisos discretos se multiplicavam, havia nos olhos de cada poeta a centelha de algo maior. O que ali se firmava, mais do que cargos ou estatutos, era um pacto com a beleza. Um pacto silencioso e resistente.

 

 

Os Integrantes do Clube dos Poetas de Campinas 1968

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A Eternidade Se Escreve em Verso

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Campinas, 26 de fevereiro de 1969.

Na tarde quente daquele verão, algo mais que uma diretoria foi formado. Foi selado um compromisso entre almas: fazer da poesia um elo permanente entre o sensível e o mundo.

Arita Damasceno Pettená, eleita presidente do Clube dos Poetas, assumiu com doçura e firmeza a missão de conduzir corações criadores há mais de cinquenta e seis anos. Ao seu lado, Dante Alighieri Vita como vice-presidente, e nomes que viriam a marcar toda uma geração de artistas e sonhadores: Aloysio Carvalho Moraes, Vicente Pereira Luna, Wilson Arrighi, Antônio dos Santos e Tarcísio Sigrist. Cada um, com sua função e seu dom, ajudando a construir o que deixaria de ser apenas um grupo para se tornar patrimônio poético da cidade.

A lista dos integrantes parecia uma constelação. Era possível ouvir seus nomes como se fossem versos de um mesmo poema…

Cada um desses nomes representava um universo de sentimentos. Eram professores, advogados, artistas, donas de casa, estudantes, jornalistas unidos por uma mesma fé: é a de que a palavra pode salvar, resistir e encantar.

Na sala do conselho, entre cafés e manuscritos, estatutos foram aprovados, cargos definidos, planos lançados ao papel como sementes ao solo fértil. Queriam organizar recitais, publicar antologias, visitar escolas, abrir as portas da literatura para os esquecidos e os calados.

A poesia era o laço invisível que unia essas vidas tão diferentes. Ali, todos eram iguais: irmãos da palavra, cúmplices do verbo, filhos do sonho.

E o mais surpreendente e belo é que o sonho permanece vivo.

Décadas se passaram. Muitos daqueles nomes se tornaram memória, eco, saudade. Outros seguiram escrevendo, ensinando, semeando cultura por onde passaram. Mas algo permaneceu intacto: o espírito do Clube dos Poetas de Campinas.

 

Hoje, ainda presidido por Arita Damasceno Pettená, o Clube continua sendo farol para os que caminham com a alma nas mãos. Em tempos de pressa, ruído e esquecimento, ele permanece firme, feito poema bem escrito: sustentado pelo amor à arte, à memória e à esperança.

Enquanto existir alguém disposto a ouvir um verso com o coração aberto, o Clube viverá.

Enquanto houver uma folha em branco e um coração que precise falar, ele seguirá pulsando.

E assim, a eternidade se escreve não em mármore, mas em verso.



Os demais integrantes:

 


Alcione T. Silva

Alcy Gigliotti

Alda Borgonovi Velloni

Alexandre Kalafre.

Amaury Souza

André Martorelli.

Anita Batista.

Antônia Gorayes.

Antônio Berroc.

Atina Batista,

Atinia A. Gorayes

Benedito Beltrão Oliveira…

Benedito Oliveira Filho.

Caio César Simões Felgar

Cecília de Godoy Camargo.

Chico de Lacerda.

Cláudio Vasconcelos Pinheiros.

Clodoaldo Hunziker

Conceição Arruda Toledo.

Deny Manzan.

Dirce Nery

Douglas Santos.

Edgar Alberto Alves Ferreira Eunice.

Emílio Conçelli

Fabio Mendes.

Francisco Aguiar.

Geraldo Pinheiro.

Guilherme de Almeida,

Ilma Coimbra.

Iracema Mussi.

Iracema Vitali

João Gurgel.

Joluma Brato.

José Gurgel.

José Hunziker.

Karolina Atina Gorayes

Laerson Moraes

Lima Coimbra

Luiz Osório Tibiriça Barros,

Marcílio Giezbrecht

Maria Geny Batista.

Maria José Ferreira Baptista

Maria Luiza Silva.

Maria Tereza Bayna

Mariza Lage

Maurício de Moraes

Miguel Lopez.

Miriam Nazareth

Moacir Andrade

Nice do Santos.

Odete Coppos

Otávio Eggydio Roggiero Jr.

Portela Torres

Regina Celia Vallm

Roque Palácio

Saira.

Sandra Peyrer Monteiro

Vera Araújo.

Vicente Pereira

Wagner P. DOS Santos.

Walfredo de Alencar

Wilma Vian 

 

Gratidão Eterna a Aloysio Carvalho Moraes

Em minhas palavras – Poetisa Azul.

 

Partiste, Aloysio,

mas não te foste.

 

Ficaste em cada verso germinado

nas noites quentes de recital,

ficaste nos olhos emocionados

de quem ousou, pela primeira vez,

se reconhecer poeta.

 

Foste mais do que fundador:

foste sementeira,

és raiz.

Com tuas mãos de artista,

lapidaste palavras,

desenhando espaços

para que tantos outros

tímidos, esquecidos, invisíveis

pudessem brilhar.

 

Teu olhar visionário viu antes de todos

que a poesia precisava de abrigo,

e por isso ergueste o Clube,

não como um prédio,

mas como um templo de alma.

 

Hoje, ao lembrar tua partida,

não te choramos no silêncio.

Te celebramos no som dos aplausos,

nos nomes que ecoaram graças a ti,

nas páginas que jamais teriam existido

sem teu incentivo.

 

Obrigada, Aloysio,

por ter acreditado na arte

quando ela ainda sussurrava.

 

Por ter feito da poesia uma casa,

e dos poetas, estrelas.

 

Teu corpo descansou,

mas tua missão vive.

 

E viverá sempre

onde houver um poema nascendo,

onde um artista for lembrado,

onde a luz da criação

for acesa por amor.




 Acervos de poemas de Aloysio Moraes

 

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Alguns poemas deixados nas colunas de jornais onde o poeta Aloysio Moraes trabalhou com o jornal Hífen, onde foi seu primeiro trabalho como colunista em 1960 e depois o jornal Diário do Povo- Campinas.

 

 

Chorei! Chorei! Desabafe o que lhe vai na alma.

E conte o que lhe aflige, pois se sua mágoa

For igual á minha nós lamentaremos juntos.

Porém, se for outra, aqui encontrará um amigo.

 

Que está pronto a aconselhá-la

Não tortures a sua alma, que já não possui

Lugar para outra dor, que tenta trazer.

Fique como está, assim, chorando baixinho

Que você torna-se mais bela do que é.

A sua dor é a mesma que a minha

Fiquemos juntos, afim de consolarmos-nos.

E quem sabe, tentaremos experimentar um amor

Entres nós consolidando nossas vidas tão iguais

Possamos dizer, finalmente surgiu a felicidade.

 

 


 

 

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Para sua sensibilidade

Direi

Aloysio Carvalho Moraes

 

Deixe-me contemplar a natureza,

Na sua mais bela forma de vida

Deixe-me tocar a harpa divina,

Dos deuses e beber as águas celestiais,

A fim de que eu possa inspirar-me.

Deixe a chuva cair devagar,

Na sua forma fina,

Deixe os pássaros cantarem,

O que eles sentem na primavera.

Deixe-me contemplar as fontes.

Ouvir o leve murmúrio de suas águas.

Deixe-me contemplar a humanidade,

E verbas suas alegrias e tristezas

Deixe-me escrever a minha amada,

E sentir o seu carinho.

Deixe-me fazer o que eu sinto,

E direi a todos que a vida é bela,

Que tudo que nos cerca é poesia.

É amor, é alegria, é felicidade.

 

                                     

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Suas Cartas

 

Aloysio Carvalho Moraes

 

Abrindo a gaveta encontrei algumas cartas,

Olhando a caligrafia notei que era a sua,

Peguei-as e fiquei com elas por alguns instantes,

Sem saber o que fazer com aquelas cartas.

Guardá-las, representaria que ainda

Um elo nos une, mas ele já não existe,

Então porque conservarias comigo,

Guardando algo que não tem mais significação.

Juntei todas que encontrei, e fui até a sala,

Parei em frente á lareira, olhei o fogo,

E comecei atirá-las uma a uma vendo,

O fogo consumi-las através das chamas.

Lembrei do nosso amor, que não era amor,

Mas sim uma paixão e quando percebemos

Ela havia desaparecido como uma chama que apaga.

 

 

Calendário

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Poderia ser

Aloysio Carvalho Moraes

O amor que ocupas no peito,

eu respeito, se possuo algum intento,

não pense, que eu tenho despeito,

porque amas, não tenho este merecimento,

Apesar de ser do amor crente,

Sei, que jamais, virá morar em mim

o seu amor, que é ardente,

e possui a beleza de um Marfim

Não é sonho, e nem é segredo

O que sinto, e se sou levado

apesar assim, não tenho medo

de dia futuros, as minhas mãos e

esperaram, as suas, ser crucificado

em seu peito desejava, mas não sonhos vãos.

 

 

Motivo

 

Amo a vida e a natureza,

o sol, à noite, o luar.

a chuva, o rio e o mar,

amo toda pureza

que rodeia sem altivez,

em sonho ou em realidade,

que possa fazer-me feliz,

ou sentir saudades

em minha idade amo infinito azul calado,

e não a mulher ao lado,

suplicando carinhos com coração

de Gelo e sem canção

que possa lembrar o amor,

mas que traz dor

deixa que eu siga

o meu caminho e diga

que sou feliz

e não infeliz

como os outros que possuíram o seu tédio.

 

 (versos do livro Agora... somente horas quietas)

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Relembrando

 

Aloysio Carvalho Moraes

 

O passar a fanfarra colegial

Lembro-me do tempo de estudante ginasial,

Quando feliz eu participava do desfile,

Envergando o uniforme das três cores do colégio.

 

Ah! como os dias passam,

Se eles pudessem voltar,

Que faria? Voltaria a correr

Atrás de uma bola de futebol,

Ou jogar bolinhas de gude.

 

Talvez voltaria somente a sentar-me,

naqueles bancos, onde nunca mais

pois eles conduziram a formatura ginasial

E dele só tenho uma imensa saudade

 

 

 

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